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Seguros em Portugal: o que as seguradoras não contam sobre os prémios que pagamos

Os portugueses pagam anualmente milhares de milhões em prémios de seguros, mas quantos realmente entendem o que está por trás desses valores? A verdade é que o setor segurador opera com uma opacidade que deixaria qualquer consumidor perplexo. Enquanto as seguradoras apresentam lucros recorde, os portugueses continuam a pagar prémios que, em muitos casos, não refletem o risco real.

A recente subida dos prémios automóveis, por exemplo, tem sido justificada com o aumento dos sinistros e dos custos de reparação. No entanto, uma análise mais aprofundada revela que as seguradoras têm margens de lucro superiores a 15% neste segmento. Os dados da ASF mostram que, apenas no primeiro semestre de 2023, o setor registou lucros de mais de 400 milhões de euros. Estaremos perante um desequilíbrio entre o que pagamos e o serviço que recebemos?

Os seguros de saúde são outro capítulo obscuro. Com a degradação do SNS, cada vez mais portugueses recorrem a seguros privados. Mas o que poucos sabem é que as seguradoras utilizam algoritmos complexos para calcular prémios com base em dados que vão desde o código postal até hábitos de consumo. Um estudo recente da DECO revelou que duas pessoas com perfis idênticos podem pagar diferenças de até 30% consoante a seguradora.

O mercado português é dominado por meia dúzia de players que, segundo especialistas, praticam preços concertados. A Autoridade da Concorrência já investigou o setor por suspeitas de cartelização, mas as provas são difíceis de reunir. Enquanto isso, o consumidor médio continua a pagar a fatura sem ter verdadeiras alternativas.

Os seguros multirriscos habitacionais são particularmente interessantes. Com o aumento da frequência de eventos climáticos extremos, as seguradoras têm vindo a introduzir exclusões subtis nas apólices. Muitos proprietários só descobrem que não estão cobertos para cheias ou incêndios quando precisam de acionar o seguro. A falta de transparência nas condições contratuais é alarmante.

A digitalização trouxe novas oportunidades, mas também novos riscos. As insurtechs prometem preços mais baixos através da análise de dados em tempo real, mas será que estamos a trocar privacidade por poupança? A recolha de dados sobre hábitos de condução, por exemplo, pode levar a discriminação de preços baseada em comportamentos que fogem ao controlo do segurado.

Os seguros de vida são talvez os mais complexos. As tabelas de mortalidade utilizadas pelas seguradoras portuguesas estão desatualizadas face ao aumento da esperança de vida. Isto significa que muitos portugueses estão a pagar prémios inflacionados para riscos que diminuíram. A falta de competitividade no setor permite que estas práticas persistam.

A regulação do setor tem sido insuficiente para proteger os consumidores. A ASF precisa de mais poderes e recursos para fiscalizar eficazmente as práticas das seguradoras. Enquanto a autoridade não tiver dentes para multar comportamentos anticoncorrenciais, os portugueses continuarão a ser prejudicados.

A solução passa por uma maior literacia financeira e por consumidores mais informados. Comparar apólices, ler as letras pequenas e exigir transparência são passos essenciais. As associações de consumidores têm um papel crucial nesta batalha pela justiça nos preços dos seguros.

O futuro dos seguros em Portugal dependerá da capacidade de o setor se adaptar às novas realidades. A sustentabilidade dos modelos de negócio, a transparência na fixação de preços e a proteção dos dados dos consumidores serão os grandes desafios dos próximos anos. Cabe aos portugueses exigir mudanças.

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