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Seguros em Portugal: o que as seguradoras não contam sobre as apólices que vendem

Num país onde quase todos temos pelo menos um seguro — automóvel, saúde, vida ou habitação —, poucos são os que realmente compreendem as letras pequenas que assinam. As seguradoras portuguesas movimentam milhares de milhões todos os anos, mas a transparência continua a ser um luxo para muitos consumidores. Entre cláusulas obscuras, exclusões escondidas e aumentos de prémios justificados com argumentos duvidosos, o setor vive um momento de tensão entre a rentabilidade e a ética.

A verdade é que comprar um seguro em Portugal tornou-se um exercício de fé. As apólices chegam com dezenas de páginas, jargão técnico inacessível e promessas que, na prática, raramente se cumprem na totalidade. Os mediadores, muitas vezes pressionados por metas de vendas, nem sempre têm tempo — ou vontade — de explicar os detalhes que mais tarde se transformam em dores de cabeça para os clientes.

Nos últimos meses, a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) tem multiplicado as advertências sobre práticas comerciais agressivas e falta de clareza na informação prestada ao consumidor. Ainda assim, as queixas continuam a chegar, sobretudo relacionadas com seguros de saúde e automóvel, onde as coberturas prometidas na venda desaparecem como por magia no momento do sinistro.

Um dos grandes segredos do setor está nos chamados 'sinistros ocultos' — aqueles que as seguradoras pagam sem alarde para evitar processos judiciais ou má publicidade. São situações em que, tecnicamente, a apólice não cobre o prejuízo, mas a empresa decide compensar o cliente para manter a sua imagem. Estas exceções, claro, nunca são divulgadas, criando uma desigualdade gritante entre segurados.

Outra realidade pouco conhecida é a forma como as seguradoras calculam os prémios. Para além dos fatores óbvios — idade, histórico de sinistros, valor do bem segurado —, as empresas usam algoritmos complexos que analisam desde o código postal até aos hábitos de consumo. Um estudo recente revelou que pessoas que vivem em certas zonas de Lisboa pagam até 30% mais pelo mesmo seguro de habitação do que residentes noutras áreas, sem qualquer justificação técnica clara.

A digitalização trouxe novas oportunidades, mas também novos riscos. As apólices online, vendidas como mais baratas e simples, escondem por vezes coberturas reduzidas e processos de reclamação quase impossíveis. Muitos consumidores só descobrem as limitações quando tentam usar o seguro, encontrando-se então num labirinto de contactos automáticos e respostas padrão.

No segmento dos seguros de vida, a situação não é mais animadora. As apólices associadas a créditos habitacionais continuam a ser vendidas com informações incompletas sobre as coberturas reais e os períodos de carência. E quando chega a hora do resgate ou da reforma, muitos portugueses descobrem que o valor acumulado está longe das projeções otimistas apresentadas anos antes.

A boa notícia é que os consumidores estão cada vez mais informados e exigentes. Plataformas de comparação de seguros, apesar das suas limitações, ajudam a perceber as diferenças entre ofertas. E a nova legislação europeia sobre distribuição de seguros, que entrou em vigor no ano passado, veio reforçar os direitos dos clientes, obrigando as empresas a serem mais transparentes sobre comissões e conflitos de interesse.

Mas a verdadeira mudança só acontecerá quando os portugueses começarem a tratar os seguros como o que realmente são: contratos complexos que merecem a mesma atenção que um empréstimo bancário ou a compra de uma casa. Ler as letras pequenas, fazer perguntas incómodas e comparar várias propostas não é paranoia — é proteção.

O futuro do setor passará inevitavelmente por uma maior personalização das apólices, com prémios ajustados ao comportamento real de cada segurado. Já existem seguros de automóvel que usam telemetria para monitorizar a condução, e de saúde que recompensam estilos de vida saudáveis. Esta evolução traz questões éticas importantes sobre privacidade e discriminação, mas também a promessa de preços mais justos para quem representa menor risco.

Enquanto isso, o conselho mantém-se: desconfie das ofertas demasiado boas para ser verdade, exija explicações claras sobre o que está e não está coberto, e nunca assine um contrato que não compreende na totalidade. O seguro é, acima de tudo, uma promessa de proteção — e essa promessa deve ser clara, transparente e cumprida na íntegra.

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