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O segredo dos seguros que ninguém te conta: como as seguradoras lucram com a tua ignorância

Num país onde o seguro automóvel é obrigatório e o de saúde tornou-se quase essencial, poucos portugueses realmente compreendem o que estão a comprar. As seguradoras operam num mundo de letras pequenas e cláusulas obscuras, criando um fosso entre o que o cliente acredita estar coberto e a realidade dos contratos.

A verdade é que as seguradoras contam com a nossa falta de atenção aos detalhes. Quantos de nós lemos realmente as 40 páginas de condições gerais de um seguro de saúde? Quem compreende verdadeiramente a diferença entre valor comercial e valor venal nos seguros de habitação? Esta ignorância custa aos portugueses milhões anualmente em coberturas que nunca conseguirão usar.

Os seguros de vida são talvez o melhor exemplo desta desconexão. Muitos portugueses subscrevem estas apólices acreditando que estão a proteger as suas famílias, sem perceber que as exclusões podem tornar a cobertura praticamente inútil. Suicídio nos primeiros dois anos, morte em certos desportos radicais, ou mesmo condições pré-existentes não declaradas - são estas as armadilhas que tornam as apólices mais baratas numa falsa economia.

No mundo dos seguros de saúde, a situação não é mais clara. As tabelas de reembolso são deliberadamente complexas, criando a ilusão de cobertura total quando na realidade o utente acaba por pagar grande parte das despesas do próprio bolso. E quando tentamos usar o seguro, deparamo-nos com redes de prestadores limitadas e listas de espera que tornam a cobertura privada quase tão lenta como o SNS.

Os seguros automóveis apresentam as suas próprias armadilhas. A franquia, esse conceito que muitos ignoram até ao primeiro acidente, pode transformar um pequeno embate numa despesa significativa. E as coberturas adicionais, desde o vidros aos pneus, são muitas vezes vendidas como essenciais quando na realidade beneficiam principalmente a seguradora.

O setor dos seguros em Portugal movimenta milhares de milhões anualmente, mas a transparência brilha pela sua ausência. As seguradoras investem mais em marketing do que em educação dos consumidores, criando campanhas emocionais que pouco revelam sobre os produtos reais. O resultado? Uma população que compra seguros por medo em vez de por compreensão.

A digitalização trouxe novos desafios. As apps de seguros prometem simplicidade, mas escondem algoritmos complexos que determinam quem paga mais e quem tem acesso a certas coberturas. O scoring digital, invisível para o consumidor, pode ditar que um pequeno acidente há dez anos ainda hoje te custe prémios mais elevados.

As seguradoras argumentam que os produtos são complexos porque os riscos o são. Mas será esta complexidade necessária ou apenas uma forma de manter os clientes na ignorância? A verdade é que em países como o Reino Unido ou a Alemanha existem esforços significativos para simplificar a linguagem dos seguros, com resultados positivos para os consumidores.

Os mediadores de seguros, outrora figuras centrais na explicação dos produtos, estão a ser substituídos por plataformas online que priorizam a velocidade sobre a compreensão. O resultado são clientes que escolhem o seguro mais barato sem perceber que estão a comprar menos cobertura do que imaginam.

A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) tem tentado aumentar a transparência, mas as mudanças são lentas face à criatividade das seguradoras em criar novos produtos complexos. Enquanto isso, o cidadão comum continua a navegar num mar de jargão técnico e letras pequenas.

A solução pode estar na educação financeira desde cedo. Ensinar os jovens a ler um contrato de seguro deveria ser tão importante como ensinar matemática básica. Afinal, estes são produtos que nos acompanham toda a vida, desde o primeiro carro até ao plano de pensões.

As seguradoras que optarem pela transparência podem descobrir que os clientes informados são mais leais e menos propensos a litígios. A confiança, afinal, é o melhor seguro de todos - e é precisamente isso que o setor tem vindo a perder.

O futuro dos seguros em Portugal dependerá da capacidade do setor em comunicar claramente e dos consumidores em exigir essa clareza. Até lá, continuaremos a pagar por proteção que muitas vezes existe mais no papel do que na realidade.

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