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O que os portugueses realmente querem nas suas casas: segredos revelados por quem vende e compra

Há uma guerra silenciosa a acontecer nas páginas de imobiliário e decoração portuguesas. Enquanto os anúncios mostram salas imaculadas e cozinhas de sonho, os compradores procuram algo mais profundo – e os vendedores que conhecem esses segredos estão a fechar negócios enquanto outros ficam com propriedades paradas durante meses. Descobrimos o que realmente move o mercado, conversando com quem vive nos números das plataformas e nas frustrações das visitas.

A primeira revelação vem dos protestos silenciosos: os portugueses estão cansados de casas que parecem hotéis. A decoração neutra e impessoal, outrora considerada segura para vender, tornou-se o maior inimigo do negócio. As pessoas querem ver personalidade nas paredes, histórias nos móveis, vida nos espaços. Um apartamento em Lisboa ficou nove meses no mercado até o proprietário substituir os sofás cinzentos por peças vintage e pintar uma parede de azul-turquesa – vendeu em três semanas. O risco calculado venceu o medo do gosto alheio.

Nos jardins e varandas, acontece uma revolução verde que nenhum arquiteto previu. Não se trata apenas de plantas, mas de ecossistemas pessoais. Os compradores perguntam sobre orientação solar não para móveis, mas para as suas oliveiras em vaso e hortas de tomate cherry. Um casal no Porto recusou um apartamento perfeito porque a varanda não tinha acesso a água corrente para regar – detalhe que nenhum mediador incluía nas fichas técnicas há cinco anos. A sustentabilidade deixou de ser uma palavra da moda para se tornar uma necessidade prática, medida em torneiras externas e pontos de tomada para carregadores de bicicletas elétricas.

O fenómeno dos bungalows revelou outra verdade inconveniente: os portugueses querem férias permanentes. Não no sentido de não trabalharem, mas de trazerem a sensação de descanso para o quotidiano. As salas mais desejadas têm ligação direta a espaços exteriores, mesmo que sejam apenas varandas de dois metros quadrados. As cozinhas abertas não são sobre gourmet, mas sobre não se sentir isolado enquanto se prepara uma refeição. A pandemia ensinou-nos que as paredes podem sufocar, e agora pagamos prémios por janelas grandes e divisões fluídas.

Nos bastidores das agências, os mediadores bem-sucedidos desenvolveram um sexto sentido para detetar 'problemas de cheiro'. Não é metafórico: casas com odores a mofo, a animais ou mesmo a produtos de limpeza excessivos vendem 40% mais devagar, segundo dados cruzados de várias plataformas. A solução? Muitos vendedores profissionais estão a contratar 'consultores olfativos' antes de colocar propriedades no mercado, substituindo pinturas caras por investimentos em ventilação e aromas neutros. O nariz do comprador é o primeiro crítico, mesmo antes dos olhos.

A tecnologia doméstica tornou-se o novo 'must have' invisível. Enquanto os anúncios destacam mármores e madeiras exóticas, os compradores perguntam discretamente sobre espessura das paredes para Wi-Fi, pré-instalação para tomadas inteligentes e compatibilidade com assistentes virtuais. Uma vivenda em Cascais perdeu três compradores potenciais porque a estrutura em pedra impossibilitava sinal uniforme – detalhe que agora consta das avaliações técnicas mais avançadas. A casa inteligente não é sobre gadgets, mas sobre infraestrutura preparada para o futuro.

Finalmente, descobrimos o paradoxo do espaço: quanto mais as casas diminuem nas cidades, mais os portugueses valorizam 'espaços de nada'. Não são arrumos nem salas extras, mas cantos intencionalmente vazios – uma parede sem móveis para futuras obras de arte, um recanto junto a uma janela apenas para uma cadeira de leitura, um vão na cozinha que não foi preenchido com mais armários. Estes espaços de possibilidade valem mais do que metros quadrados predefinidos, porque permitem que os novos donos escrevam a sua própria história nas paredes, em vez de herdarem a de alguém.

O que todas estas tendências revelam é uma mudança fundamental: a casa deixou de ser um investimento para se tornar um organismo vivo. Os portugueses não compram tijolos e cimento, mas cenários para as suas vidas em evolução. E os vendedores que entenderem isto – que oferecem potencial em vez de perfeição, personalidade em vez de neutralidade – são os que fecham negócios enquanto os outros ainda procuram o comprador ideal para a casa congelada no tempo.

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