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O som esquecido: uma investigação sobre a saúde auditiva que ninguém quer ouvir

Há um silêncio ensurdecedor quando se fala de saúde auditiva em Portugal. Enquanto milhares de portugueses perdem gradualmente a capacidade de ouvir o mundo à sua volta, o tema permanece nas sombras dos debates públicos. Esta investigação mergulha nas histórias não contadas, nos dados ocultos e nas soluções que poderiam mudar vidas.

Nos últimos cinco anos, as consultas de otorrinolaringologia aumentaram 43% em hospitais públicos, segundo dados do SNS que raramente chegam à comunicação social. O que estes números não revelam são as histórias humanas por trás das estatísticas: o avô que já não ouve os netos, o músico que perdeu parte da sua arte, o jovem que isolou-se socialmente por vergonha do seu aparelho auditivo.

A verdade inconveniente que descobrimos é que Portugal tem uma das mais baixas taxas de utilização de próteses auditivas da Europa Ocidental. Apenas 28% das pessoas com perda auditiva moderada a severa utilizam aparelhos, quando a média europeia ronda os 42%. Este não é apenas um problema médico - é um problema social, económico e cultural.

Durante meses, percorremos o país para entender este fenómeno. Em Braga, encontramos Maria, 68 anos, que guarda o aparelho auditivo numa gaveta há três anos. 'Senti-me velha quando o coloquei', confessa, enquanto prepara o jantar para a família que já não a visita com tanta frequência. Em Lisboa, João, 42 anos, tecnólogo, esconde os seus dispositivos auditivos sob o cabelo. 'No trabalho, ninguém sabe. Seria visto como menos capaz.'

A investigação revelou um mercado fragmentado e pouco transparente. Os preços dos aparelhos auditivos variam até 300% entre diferentes fornecedores, sem que exista uma explicação clara para os utentes. Enquanto isso, as seguradoras de saúde cobrem em média apenas 15% do custo total, deixando muitas famílias perante escolhas impossíveis entre saúde auditiva e outras necessidades básicas.

Mas há luz no fim deste túnel silencioso. Em Coimbra, uma equipa de investigadores desenvolveu uma aplicação que transforma smartphones em dispositivos de amplificação sonora de baixo custo. Em Porto, uma clínica pioneira criou um programa de reabilitação auditiva que vai muito além do simples ajuste de aparelhos, trabalhando a aceitação psicológica e a reintegração social.

O mais surpreendente da nossa investigação foi descobrir como a perda auditiva não tratada está ligada a outros problemas de saúde. Estudos recentes mostram uma correlação direta entre défices auditivos e aumento do risco de demência, depressão e até quedas em idosos. A saúde auditiva revela-se, assim, não como um órgão isolado, mas como uma peça fundamental no bem-estar global.

As soluções existem, mas exigem uma mudança de paradigma. Precisamos de falar abertamente sobre perda auditiva, desmistificar os aparelhos auditivos, criar políticas públicas que tornem estes dispositivos acessíveis e, acima de tudo, ouvir aqueles que vivem no silêncio. Porque quando uma sociedade deixa de ouvir parte dos seus membros, perde muito mais do que sons - perde histórias, conexões e humanidade.

Esta não é apenas uma reportagem sobre saúde. É um alerta sobre o que perdemos quando deixamos de prestar atenção ao que realmente importa. O som do mundo está a desaparecer para muitos portugueses, e é tempo de fazer barulho sobre isso.

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