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O som do silêncio: quando a audição nos prega partidas

Há um fenómeno curioso que acontece nas conversas de família: o momento em que alguém pergunta 'O quê?' pela terceira vez seguida. Não é falta de atenção, nem distração. É o início de uma mudança subtil que afeta milhões de portugueses sem que sequer se apercebam. A perda auditiva não chega de repente, como um trovão. Chega devagarinho, como a maré que vai recuando da praia.

Na verdade, a maioria das pessoas leva em média sete anos a procurar ajuda depois de notar os primeiros sinais. Sete anos de 'desculpe, pode repetir?' e de televisões com o volume cada vez mais alto. Sete anos de pequenos mal-entendidos que se acumulam como folhas secas no outono. Porque é que esperamos tanto? Talvez porque associamos problemas de audição à velhice, quando na realidade podem começar muito mais cedo do que imaginamos.

O ruído constante das cidades modernas está a criar uma geração com ouvidos cansados. Os fones com volume máximo, os bares com música alta, o trânsito incessante - tudo contribui para um desgaste progressivo que nem sempre notamos até ser tarde demais. E o pior é que muitas vezes nem sequer dói. A perda auditiva induzida por ruído é traiçoeira precisamente por ser indolor e gradual.

Mas há esperança, e ela começa pela informação. Sabia que existem exercícios simples que pode fazer para manter os ouvidos saudáveis? Tal como fazemos alongamentos para as costas ou caminhamos para o coração, também os nossos ouvidos precisam de cuidados preventivos. E não, não estou a falar de limpezas com cotonetes - essas até podem fazer mais mal do que bem.

A tecnologia dos aparelhos auditivos evoluiu de forma extraordinária nos últimos anos. Já não são aqueles aparelhos grandes e bege que os nossos avós usavam. Hoje em dia, são dispositivos discretos, alguns quase invisíveis, que se conectam ao telemóvel e podem ser personalizados para diferentes ambientes sonoros. Um restaurante barulhento? O aparelho ajusta-se automaticamente. Uma conversa tranquila em casa? Outra configuração. É como ter um assistente pessoal para os seus ouvidos.

O que mais me impressiona, porém, não é a tecnologia em si, mas o impacto que ela tem na qualidade de vida das pessoas. Conheci uma senhora de 68 anos que, depois de colocar o seu primeiro aparelho auditivo, chorou ao ouvir o cantar dos pássaros pela primeira vez em dez anos. Ou o caso de um músico que conseguiu voltar a tocar depois de descobrir que a sua dificuldade em afinar o instrumento era na verdade um problema auditivo.

Mas atenção: nem todos os problemas de audição requerem aparelhos. Muitas vezes, soluções simples como proteções auditivas em ambientes ruidosos ou mudanças de hábitos podem fazer uma diferença enorme. O importante é não ignorar os sinais e procurar ajuda especializada. Um teste auditivo deveria ser tão comum como ir ao dentista ou fazer um check-up anual.

E falando em testes, sabia que muitos deles podem ser feitos online de forma gratuita? Claro que não substituem uma avaliação profissional, mas são um excelente ponto de partida para perceber se vale a pena marcar uma consulta. A desculpa do 'não tenho tempo' já não coloca quando podemos fazer um rastreio básico em casa.

O que mais me preocupa nesta questão toda é o estigma que ainda existe em relação aos aparelhos auditivos. As pessoas têm vergonha, como se usar um dispositivo para ouvir melhor fosse diferente de usar óculos para ver melhor. É uma questão de saúde, não de vaidade. E quanto mais cedo aceitarmos isso, mais cedo poderemos ajudar quem precisa.

Há também um aspecto económico que não podemos ignorar. Muitas pessoas adiam a solução dos seus problemas auditivos porque acham que os aparelhos são caros. O que não sabem é que existem alternativas acessíveis e que, em muitos casos, o Sistema Nacional de Saúde comparticipa parte do valor. Informar-se é o primeiro passo.

No final das contas, cuidar da audição é cuidar das nossas conexões com o mundo. É preservar a capacidade de ouvir as histórias dos netos, a música que nos faz felizes, as conversas que nos enriquecem. Vale a pena prestar atenção aos sinais - literalmente.

E você, já parou para pensar como está a sua audição? Já notou se tem dificuldade em acompanhar conversas em ambientes barulhentos? Sente que as pessoas murmuram mais do que costumavam? Talvez seja hora de dar aos seus ouvidos a atenção que merecem. Afinal, o som do silêncio só é bonito quando é uma escolha, não uma imposição.

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