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O preço da energia em Portugal: quando a luz vai deixar de ser um luxo

Há um silêncio que se instala nas cozinhas portuguesas quando as faturas da eletricidade chegam. Não é o silêncio da contemplação, mas o do cálculo: quantas refeições se podem cozinhar antes do próximo pagamento? Quantas horas de aquecimento se podem permitir quando o inverno aperta? Esta não é uma questão de conforto, mas de sobrevivência básica para milhares de famílias que veem a energia transformar-se num bem de luxo.

Os números contam uma história cruel: Portugal tem a terceira eletricidade mais cara da Europa, apenas atrás da República Checa e da Roménia. Enquanto os nossos vizinhos espanhóis beneficiam de preços significativamente mais baixos, os portugueses continuam a pagar o preço de décadas de más decisões energéticas. A pergunta que ninguém parece querer responder é simples: porquê?

A resposta pode estar enterrada nos contratos de longa duração com produtores de energia que distorcem o mercado. Estes acordos, muitos deles assinados há mais de uma década, garantem preços artificialmente elevados que depois se refletem na fatura do consumidor final. Enquanto isso, as grandes empresas do setor continuam a reportar lucros recorde, num paradoxo que deixa economistas de cabelos em pé.

A transição energética tornou-se o cavalo de batalha do governo, mas a realidade no terreno é bem diferente do discurso político. Os projetos de energias renováveis avançam a passo de caracol, emperrados pela burocracia e por interesses instalados. As comunidades que deviam beneficiar desta revolução verde veem-se, muitas vezes, excluídas do processo, enquanto os grandes players consolidam o seu poder.

A energia solar residencial poderia ser a salvação para muitas famílias, mas a verdade é que os custos de instalação continuam proibitivos para a maioria dos portugueses. Os programas de apoio existem no papel, mas na prática esbarram em requisitos tão complexos que afastam precisamente quem mais precisa. É como oferecer um salva-vidas amarrado a um peso de 50 quilos.

O gás natural, apresentado como solução intermédia, revela-se outra armadilha. Com a dependência do mercado spot e a volatilidade geopolítica, os preços disparam sem aviso, deixando os consumidores reféns de fatores que não controlam. As alternativas? Poucas e caras.

A eficiência energética devia ser a primeira linha de defesa contra os preços elevados, mas Portugal continua entre os países da UE com pior desempenho neste capítulo. Edifícios mal isolados, electrodomésticos antigos e hábitos de consumo pouco sustentáveis criam um ciclo vicioso: gastamos mais porque somos ineficientes, e somos ineficientes porque não temos dinheiro para investir em soluções melhores.

A pobreza energética não é um conceito abstrato. São idosos que passam frio em suas casas no inverno. São famílias que escolhem entre comer quente ou ter luz. São pequenos negócios que fecham porque não conseguem suportar os custos da eletricidade. Esta realidade devia envergonhar um país que se quer moderno e desenvolvido.

As soluções existem, mas exigem coragem política. Rever os contratos que distorcem o mercado, simplificar o licenciamento de projetos renováveis, criar programas de eficiência energética verdadeiramente acessíveis e proteger os consumidores mais vulneráveis não são opções – são obrigações.

O momento de agir é agora. Cada dia de inação significa mais famílias a enfrentar escolhas impossíveis, mais negócios a fechar portas, mais futuro comprometido. A energia não pode continuar a ser um privilégio quando é uma necessidade básica. Chegou a hora de acender a luz sobre este problema – antes que seja tarde demais.

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