O lado obscuro da transição energética: quem lucra com a crise climática
Enquanto os governos europeus anunciam ambiciosos planos de transição energética, uma investigação aprofundada revela que os mesmos grupos económicos que lucraram com os combustíveis fósseis estão agora a posicionar-se para dominar as energias renováveis. A corrida pelo hidrogénio verde, os mega-contratos de parques eólicos offshore e os subsídios milionários estão a criar novos oligopólios sob o manto da sustentabilidade.
Os dados são alarmantes: apenas cinco conglomerados controlam mais de 60% dos projetos de energia renovável em Portugal. Estes grupos, muitos deles com históricos polémicos na exploração de petróleo e gás, estão a usar a sua influência política e capacidade financeira para monopolizar o mercado emergente. As pequenas e médias empresas, que deveriam ser as protagonistas desta revolução verde, estão a ser sistematicamente excluídas.
A estratégia é subtil mas eficaz. Através de joint-ventures com empresas estatais, aquisições hostis de startups promissoras e lobby intensivo junto dos decisores políticos, estes gigantes estão a moldar a legislação às suas necessidades. O resultado? Um mercado cada vez mais concentrado, onde a inovação genuína dá lugar aos negócios de sempre.
O caso do hidrogénio verde é particularmente revelador. Enquanto se fala em descarbonização e independência energética, os mesmos intermediários que controlavam o gás natural estão agora a posicionar-se como players-chave na nova economia do hidrogénio. Os contratos de longo prazo, as infraestruturas dedicadas e os esquemas de financiamento parecem copiados do manual dos combustíveis fósseis.
Mas a questão vai além da concentração económica. A transição energética está a criar novas dependências geopolíticas preocupantes. A Europa, na sua ânsia de abandonar o gás russo, está a substituí-lo por dependências igualmente perigosas: lítio da América do Sul, cobalto da República Democrática do Congo e terras raras da China. A soberania energética continua a ser uma miragem.
Os cidadãos, entretanto, pagam a fatura duplamente: através dos seus impostos, que financiam os generosos subsídios às grandes empresas, e através das contas de energia, que não param de subir. A promessa de energia mais barata e acessível parece cada vez mais distante, enquanto os lucros das grandes utilities batem recordes históricos.
A situação em Portugal não é exceção. Os leilões de capacidade renovável, supostamente desenhados para promover a concorrência, têm sido dominados pelos mesmos players. As regras complexas e os requisitos de capital mínimo funcionam como barreiras à entrada, protegendo os interesses estabelecidos em detrimento dos novos entrantes.
A ironia é cruel: a transição energética, que deveria representar uma rutura com o modelo económico do passado, está a ser capturada pelos mesmos interesses que criaram a crise climática. A retórica mudou, mas os beneficiários são os mesmos. A sustentabilidade tornou-se num negócio como outro qualquer, onde o greenwashing é a nova moeda de troca.
As comunidades locais, que deveriam beneficiar diretamente dos projetos renováveis, são muitas vezes marginalizadas. Os parques eólicos e solares são implantados sem consulta adequada, os benefícios económicos ficam concentrados nas sedes das empresas em Lisboa e Porto, e os impactos ambientais são subestimados. A justiça climática parece ser mais um slogan de marketing do que uma realidade.
O que está em jogo vai além dos preços da energia ou das emissões de carbono. Está em causa o próprio modelo democrático. Quando o poder económico se concentra desta forma, a capacidade dos cidadãos influenciarem as políticas que afetam as suas vidas diminui drasticamente. A transição energética está a tornar-se num processo tecnocrático, dirigido de cima para baixo, em vez de uma transformação social participativa.
Há, no entanto, sinais de esperança. Movimentos cidadãos, cooperativas energéticas e pequenas empresas inovadoras estão a desafiar este status quo. Em várias regiões do país, comunidades estão a tomar as rédeas da sua transição energética, criando modelos mais justos e democráticos. Estas experiências, ainda que marginais, mostram que outro caminho é possível.
A verdadeira revolução energética não será tecnológica, mas sim política e económica. Exige que quebremos os oligopólios, que democratizemos o acesso aos recursos energéticos e que coloquemos as pessoas no centro das decisões. Caso contrário, estaremos apenas a trocar um sistema insustentável por outro igualmente problemático, apenas com uma fachada mais verde.
Os dados são alarmantes: apenas cinco conglomerados controlam mais de 60% dos projetos de energia renovável em Portugal. Estes grupos, muitos deles com históricos polémicos na exploração de petróleo e gás, estão a usar a sua influência política e capacidade financeira para monopolizar o mercado emergente. As pequenas e médias empresas, que deveriam ser as protagonistas desta revolução verde, estão a ser sistematicamente excluídas.
A estratégia é subtil mas eficaz. Através de joint-ventures com empresas estatais, aquisições hostis de startups promissoras e lobby intensivo junto dos decisores políticos, estes gigantes estão a moldar a legislação às suas necessidades. O resultado? Um mercado cada vez mais concentrado, onde a inovação genuína dá lugar aos negócios de sempre.
O caso do hidrogénio verde é particularmente revelador. Enquanto se fala em descarbonização e independência energética, os mesmos intermediários que controlavam o gás natural estão agora a posicionar-se como players-chave na nova economia do hidrogénio. Os contratos de longo prazo, as infraestruturas dedicadas e os esquemas de financiamento parecem copiados do manual dos combustíveis fósseis.
Mas a questão vai além da concentração económica. A transição energética está a criar novas dependências geopolíticas preocupantes. A Europa, na sua ânsia de abandonar o gás russo, está a substituí-lo por dependências igualmente perigosas: lítio da América do Sul, cobalto da República Democrática do Congo e terras raras da China. A soberania energética continua a ser uma miragem.
Os cidadãos, entretanto, pagam a fatura duplamente: através dos seus impostos, que financiam os generosos subsídios às grandes empresas, e através das contas de energia, que não param de subir. A promessa de energia mais barata e acessível parece cada vez mais distante, enquanto os lucros das grandes utilities batem recordes históricos.
A situação em Portugal não é exceção. Os leilões de capacidade renovável, supostamente desenhados para promover a concorrência, têm sido dominados pelos mesmos players. As regras complexas e os requisitos de capital mínimo funcionam como barreiras à entrada, protegendo os interesses estabelecidos em detrimento dos novos entrantes.
A ironia é cruel: a transição energética, que deveria representar uma rutura com o modelo económico do passado, está a ser capturada pelos mesmos interesses que criaram a crise climática. A retórica mudou, mas os beneficiários são os mesmos. A sustentabilidade tornou-se num negócio como outro qualquer, onde o greenwashing é a nova moeda de troca.
As comunidades locais, que deveriam beneficiar diretamente dos projetos renováveis, são muitas vezes marginalizadas. Os parques eólicos e solares são implantados sem consulta adequada, os benefícios económicos ficam concentrados nas sedes das empresas em Lisboa e Porto, e os impactos ambientais são subestimados. A justiça climática parece ser mais um slogan de marketing do que uma realidade.
O que está em jogo vai além dos preços da energia ou das emissões de carbono. Está em causa o próprio modelo democrático. Quando o poder económico se concentra desta forma, a capacidade dos cidadãos influenciarem as políticas que afetam as suas vidas diminui drasticamente. A transição energética está a tornar-se num processo tecnocrático, dirigido de cima para baixo, em vez de uma transformação social participativa.
Há, no entanto, sinais de esperança. Movimentos cidadãos, cooperativas energéticas e pequenas empresas inovadoras estão a desafiar este status quo. Em várias regiões do país, comunidades estão a tomar as rédeas da sua transição energética, criando modelos mais justos e democráticos. Estas experiências, ainda que marginais, mostram que outro caminho é possível.
A verdadeira revolução energética não será tecnológica, mas sim política e económica. Exige que quebremos os oligopólios, que democratizemos o acesso aos recursos energéticos e que coloquemos as pessoas no centro das decisões. Caso contrário, estaremos apenas a trocar um sistema insustentável por outro igualmente problemático, apenas com uma fachada mais verde.