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O jogo sujo do hidrogénio verde: como os grandes grupos estão a moldar a transição energética em Portugal

Nos bastidores da transição energética portuguesa, uma batalha silenciosa está a ser travada. Enquanto o governo anuncia ambiciosos planos para o hidrogénio verde, os grandes grupos económicos estão a mover as suas peças no tabuleiro, criando um cenário onde os interesses privados podem sobrepor-se ao bem público. A promessa de uma energia limpa e acessível para todos está a ser moldada por estratégias que pouco têm de transparente.

A corrida pelo hidrogénio verde transformou-se num campo minado de subsídios públicos e acordos obscuros. Empresas com históricos questionáveis em matéria ambiental estão agora na linha da frente dos projetos financiados com dinheiro dos contribuintes. O que deveria ser uma revolução energética justa está a transformar-se num negócio como os outros, onde os mais poderosos ditam as regras do jogo.

Nos corredores da Comissão Europeia e dos ministérios nacionais, lobbies poderosos trabalham horas extras para garantir que a regulamentação do hidrogénio sirva os seus interesses. Os critérios de sustentabilidade são flexibilizados, os prazos alongados, e as exigências ambientais diluídas. Enquanto isso, pequenos produtores e startups inovadoras ficam à margem, sem capacidade para competir com os gigantes que dominam o setor.

Os números oficiais contam uma história de sucesso, mas uma análise mais profunda revela fissuras preocupantes. Os projetos anunciados com grande pompa enfrentam atrasos inexplicáveis, os custos disparam sem justificação clara, e os benefícios prometidos para as comunidades locais nunca materializam. A transição energética está a ser sequestrada por interesses que pouco se importam com a descarbonização real da economia.

O caso português é particularmente revelador. Com condições naturais excecionais para a produção de energias renováveis, o país poderia liderar uma transição verdadeiramente democrática. Em vez disso, assiste-se à repetição de velhos padrões: concentração de poder, opacidade nas decisões, e benefícios que escorrem para os mesmos de sempre. A revolução energética prometida está a ser minada antes mesmo de começar.

As comunidades locais, que deveriam ser as principais beneficiárias desta transição, são muitas vezes tratadas como meras espectadoras. Os projetos são decididos em gabinetes fechados, sem consulta adequada ou consideração pelos impactos reais. O resultado é uma desconfiança crescente em relação às energias verdes, alimentada por práticas que contradizem os princípios da sustentabilidade que supostamente defendem.

A investigação revela padrões preocupantes: consultoras que trabalham simultaneamente para o governo e para os grandes grupos, estudos de impacto ambiental superficialmente elaborados, e processos de licitação desenhados à medida de players específicos. O hidrogénio verde, que deveria simbolizar um novo paradigma, está a ser contaminado pelas velhas práticas do capitalismo de compadrio.

A verdade inconveniente é que a transição energética está a ser usada como cortina de fumo para consolidar o poder dos mesmos grupos que durante décadas lucraram com os combustíveis fósseis. A mudança de discurso não significa mudança de práticas. Por trás da retórica verde, escondem-se estratégias de negócio que pouco têm de revolucionário.

Portugal enfrenta agora uma encruzilhada histórica: pode permitir que a transição energética seja mais um capítulo na história da concentração de poder, ou pode lutar por um modelo verdadeiramente democrático e descentralizado. A escolha que fizer agora determinará não apenas o futuro energético do país, mas a própria natureza da sua democracia.

O tempo de ilusões acabou. É preciso exigir transparência, responsabilização, e um compromisso genuíno com uma transição justa. Caso contrário, o hidrogénio verde será apenas mais uma promessa vazia num longo historial de oportunidades perdidas.

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