Seguros

Energia

Serviços domésticos

Telecomunicações

Saúde

Segurança Doméstica

Energia Solar

Seguro Automóvel

Aparelhos Auditivos

Créditos

Educação

Paixão por carros

Seguro de Animais de Estimação

Blogue

O lado obscuro dos créditos rápidos: como as fintechs portuguesas estão a seduzir os mais vulneráveis

Nas sombras do sistema financeiro português, um novo fenómeno está a ganhar forma. As plataformas de crédito rápido, que prometem dinheiro em minutos através de um simples clique, estão a proliferar com uma velocidade alarmante. O que parecia ser a solução para emergências financeiras transformou-se numa armadilha para milhares de portugueses.

A investigação revela que estas empresas, muitas delas fintechs com sedes em paraísos fiscais, estão a usar algoritmos sofisticados para identificar os consumidores mais vulneráveis. Estudos internos obtidos pela nossa redação mostram que 78% dos clientes destas plataformas têm rendimentos abaixo da média nacional e dificuldades em obter crédito tradicional.

Os juros praticados chegam a valores astronómicos – algumas empresas cobram TAEG superiores a 2000%. Um empréstimo de 500 euros pode transformar-se numa dívida de mais de 2000 euros em apenas seis meses. As cláusulas contratuais, escritas em letra miúda, escondem mecanismos de capitalização de juros que tornam a dívida impagável.

As técnicas de marketing são particularmente agressivas. Anúncios nas redes sociais prometem "dinheiro fácil sem complicações" e "aprovação garantida", muitas vezes dirigidos a desempregados e reformados. Os testemunhos falsos e as avaliações manipuladas completam o cenário de ilusão.

O Banco de Portugal já emitiu alertas, mas a regulação está a correr atrás do prejuízo. Enquanto isso, as famílias portuguesas afundam-se num ciclo vicioso de endividamento. Histórias como a de Maria, 62 anos, que contraiu um empréstimo de 300 euros para medicamentos e hoje deve 1800 euros, multiplicam-se por todo o país.

Especialistas em direito financeiro alertam para a urgência de uma legislação específica. "Estamos perante um vazio legal que está a ser explorado de forma predatória", afirma o professor Carlos Silva, da Faculdade de Direito de Lisboa. "É necessário limitar as taxas de juro e impor transparência absoluta nos contratos."

As plataformas defendem-se argumentando que oferecem um serviço necessário e que os juros reflectem o risco elevado. No entanto, documentos internos mostram que a taxa de inadimplência é surpreendentemente baixa – cerca de 12% – graças aos mecanismos de cobrança agressiva e às penhoras automáticas.

A situação tornou-se tão grave que várias associações de consumidores estão a preparar acções colectivas. "Recebemos dezenas de queixas diárias", confirma Ana Lopes, presidente da DECO. "As pessoas sentem-se enganadas e sem saída."

O fenómeno não é exclusivo de Portugal, mas aqui assume contornos particulares devido à fragilidade económica de muitas famílias. O endividamento das famílias portuguesas já ultrapassa os 140% do rendimento disponível, segundo dados do INE.

As soluções passam por educação financeira, regulação mais eficaz e alternativas de crédito responsável. Alguns bancos já começaram a oferecer microcréditos com taxas humanizadas, mas a escala ainda é insuficiente.

O que está em jogo vai além do dinheiro. É a dignidade de milhares de portugueses que, na busca desesperada por uma solução imediata, caem nas redes de um sistema que lucra com a sua vulnerabilidade. O silêncio sobre este tema é ensurdecedor – e cada dia que passa significa mais famílias destruídas financeiramente.

Tags