O labirinto dos créditos ao consumo: como os portugueses estão a ser enredados em dívidas perigosas
Nos últimos meses, os corredores dos supermercados transformaram-se em autênticos campos de batalha financeira. Entre as prateleiras do azeite e do arroz, surgiram pequenos quiosques que prometem soluções milagrosas: crédito rápido, fácil e sem complicações. O que parecem ser oportunidades de alívio transformam-se, frequentemente, em verdadeiras armadilhas para milhares de famílias portuguesas.
A reportagem do Observador revelou que o endividamento das famílias atingiu níveis alarmantes no primeiro trimestre de 2024. Os dados do Banco de Portugal mostram um aumento de 17% nos créditos ao consumo face ao mesmo período do ano anterior. Mas os números escondem histórias humanas dramáticas: reformados que contraíram empréstimos para pagar contas médicas, jovens endividados até ao pescoço para comprar telemóveis de última geração, famílias que usam um crédito para pagar outro.
O Jornal Económico destapou uma prática preocupante: a venda agressiva de seguros associados aos créditos. Muitos consumidores nem sequer sabem que estão a pagar por produtos que nunca solicitaram ou que não compreendem. As letras pequenas dos contratos escondem cláusulas abusivas que tornam quase impossível a resolução antecipada sem penalizações exorbitantes.
A situação tornou-se tão grave que a Deco já recebeu mais de 3.000 queixas apenas este ano. Maria Santos, de 68 anos, é uma das vítimas: "Fui ao supermercado comprar pão e saí de lá com um crédito de 5.000 euros. Disseram-me que era para aproveitar uma promoção especial. Agora não consigo dormir à noite".
Os especialistas financeiros ouvidos pelo Dinheiro Vivo alertam para o perigo dos juros variáveis nestes créditos. Com a subida da Euribor, muitas prestações duplicaram sem que os clientes tivessem sido devidamente informados sobre os riscos. "É como conduzir um carro sem saber onde está o travão", compara o economista Pedro Costa.
A ECO Sapo.pt investigou as técnicas de venda utilizadas pelos promotores de crédito. Recrutados com base na sua capacidade de persuasão rather than conhecimento financeiro, muitos recebem comissões avultadas por cada contrato assinado. "Há uma pressão enorme para vender, vender, vender. A ética fica à porta", confessa um ex-promotor que pediu anonimato.
O Jornal de Negócios revelou que algumas instituições financeiras estão a usar algoritmos preditivos para identificar consumidores vulneráveis. Através da análise de padrões de compra e dados pessoais, conseguem direcionar ofertas específicas para quem está mais propenso a aceitar condições desfavoráveis.
As associações de defesa do consumidor exigem medidas urgentes. Propõem a criação de um período de reflexão obrigatório de 14 dias para todos os créditos ao consumo, além da limitação das comissões dos promotores. "Precisamos de travar esta máquina de fazer endividados", defende Ana Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Direito do Consumo.
Enquanto isso, nas redes sociais multiplicam-se os anúncios de "créditos 100% online em 5 minutos". As promessas são sempre as mesmas: sem fiadores, sem complicações, sem perguntas inconvenientes. O que não dizem é que muitos destes empréstimos têm TAEG que chegam aos 20%, transformando sonhos em pesadelos financeiros.
O Banco de Portugal já emitiu alertas sobre o crescimento descontrolado deste mercado, mas as medidas de supervisão parecem chegar sempre tarde. Enquanto os reguladores dormem, os portugueses continuam a cair nas teias de um sistema que lucra com a sua falta de literacia financeira.
A solução? Educação financeira nas escolas, regulação mais apertada e, sobretudo, a consciencialização de que crédito fácil raramente é boa solução. Como diz o velho provérbio: quando a esmola é demais, o pobre desconfia. Talvez esteja na hora de desconfiarmos mais.
A reportagem do Observador revelou que o endividamento das famílias atingiu níveis alarmantes no primeiro trimestre de 2024. Os dados do Banco de Portugal mostram um aumento de 17% nos créditos ao consumo face ao mesmo período do ano anterior. Mas os números escondem histórias humanas dramáticas: reformados que contraíram empréstimos para pagar contas médicas, jovens endividados até ao pescoço para comprar telemóveis de última geração, famílias que usam um crédito para pagar outro.
O Jornal Económico destapou uma prática preocupante: a venda agressiva de seguros associados aos créditos. Muitos consumidores nem sequer sabem que estão a pagar por produtos que nunca solicitaram ou que não compreendem. As letras pequenas dos contratos escondem cláusulas abusivas que tornam quase impossível a resolução antecipada sem penalizações exorbitantes.
A situação tornou-se tão grave que a Deco já recebeu mais de 3.000 queixas apenas este ano. Maria Santos, de 68 anos, é uma das vítimas: "Fui ao supermercado comprar pão e saí de lá com um crédito de 5.000 euros. Disseram-me que era para aproveitar uma promoção especial. Agora não consigo dormir à noite".
Os especialistas financeiros ouvidos pelo Dinheiro Vivo alertam para o perigo dos juros variáveis nestes créditos. Com a subida da Euribor, muitas prestações duplicaram sem que os clientes tivessem sido devidamente informados sobre os riscos. "É como conduzir um carro sem saber onde está o travão", compara o economista Pedro Costa.
A ECO Sapo.pt investigou as técnicas de venda utilizadas pelos promotores de crédito. Recrutados com base na sua capacidade de persuasão rather than conhecimento financeiro, muitos recebem comissões avultadas por cada contrato assinado. "Há uma pressão enorme para vender, vender, vender. A ética fica à porta", confessa um ex-promotor que pediu anonimato.
O Jornal de Negócios revelou que algumas instituições financeiras estão a usar algoritmos preditivos para identificar consumidores vulneráveis. Através da análise de padrões de compra e dados pessoais, conseguem direcionar ofertas específicas para quem está mais propenso a aceitar condições desfavoráveis.
As associações de defesa do consumidor exigem medidas urgentes. Propõem a criação de um período de reflexão obrigatório de 14 dias para todos os créditos ao consumo, além da limitação das comissões dos promotores. "Precisamos de travar esta máquina de fazer endividados", defende Ana Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Direito do Consumo.
Enquanto isso, nas redes sociais multiplicam-se os anúncios de "créditos 100% online em 5 minutos". As promessas são sempre as mesmas: sem fiadores, sem complicações, sem perguntas inconvenientes. O que não dizem é que muitos destes empréstimos têm TAEG que chegam aos 20%, transformando sonhos em pesadelos financeiros.
O Banco de Portugal já emitiu alertas sobre o crescimento descontrolado deste mercado, mas as medidas de supervisão parecem chegar sempre tarde. Enquanto os reguladores dormem, os portugueses continuam a cair nas teias de um sistema que lucra com a sua falta de literacia financeira.
A solução? Educação financeira nas escolas, regulação mais apertada e, sobretudo, a consciencialização de que crédito fácil raramente é boa solução. Como diz o velho provérbio: quando a esmola é demais, o pobre desconfia. Talvez esteja na hora de desconfiarmos mais.