Seguros

Energia

Serviços domésticos

Telecomunicações

Saúde

Segurança Doméstica

Energia Solar

Seguro Automóvel

Aparelhos Auditivos

Créditos

Educação

Paixão por carros

Seguro de Animais de Estimação

Blogue

O futuro do crédito em Portugal: como as novas regras vão mudar a forma como pedimos dinheiro

Nos últimos meses, os bancos portugueses têm vindo a ajustar as suas políticas de crédito de forma quase impercetível para o comum dos portugueses. Mas estas mudanças, que passam despercebidas nas pequenas letras dos contratos, estão a redefinir completamente o acesso ao financiamento em Portugal. A questão que se coloca é simples: estamos perante uma evolução natural do mercado ou perante uma revolução silenciosa que vai excluir milhares de portugueses do acesso ao crédito?

As novas regras de concessão de crédito, que entraram em vigor no início do ano, não foram anunciadas com pompa e circunstância. Não houve conferências de imprensa nem comunicados oficiais. A mudança aconteceu nos gabinetes dos gestores de risco dos bancos, nas reuniões de comité de crédito, nos ajustes aos algoritmos de scoring. E os efeitos já se começam a sentir nos balcões das agências por todo o país.

O que mudou, afinal? Os bancos passaram a analisar não apenas a capacidade de pagamento atual dos clientes, mas também a sua resiliência financeira perante cenários adversos. Isto significa que mesmo quem tem um emprego estável e rendimentos adequados pode ver o seu pedido de crédito recusado se o banco considerar que não teria margem para suportar um aumento das taxas de juro ou uma quebra temporária de rendimentos.

Esta abordagem mais conservadora tem um impacto particularmente significativo nos jovens que pretendem comprar a sua primeira casa. Segundo dados recolhidos junto de várias instituições financeiras, a taxa de aprovação de crédito habitação para menores de 35 anos caiu cerca de 15% no primeiro trimestre face ao mesmo período do ano anterior. Os critérios tornaram-se mais rigorosos, exigindo entradas mais elevadas e analisando com lupa as despesas mensais dos candidatos.

Mas não são apenas os jovens que sentem o aperto. Os pequenos e médios empresários também enfrentam dificuldades acrescidas no acesso ao financiamento. Os bancos estão a exigir garantias mais sólidas e planos de negócio mais detalhados, mesmo para montantes relativamente modestos. Esta tendência preocupa particularmente os setores mais afetados pela pandemia, como o turismo e a restauração, que precisam de investir na sua recuperação.

Por trás destas mudanças está a preocupação dos bancos com o aumento da inflação e a subida das taxas de juro. A economia portuguesa mostra sinais de recuperação, mas a incerteza mantém-se elevada. Os bancos, que ainda carregam as cicatrizes da crise financeira de 2008, preferem ser cautelosos do que arriscar um novo aumento da inadimplência.

No entanto, esta cautela tem um custo social. O acesso ao crédito é fundamental para a mobilidade social e para o desenvolvimento económico. Sem financiamento, muitas famílias não conseguem comprar casa, os jovens não conseguem investir na sua educação e os empresários não conseguem expandir os seus negócios. O risco é que Portugal fique dividido entre quem tem acesso ao crédito e quem não tem.

As alternativas ao crédito bancário tradicional estão a ganhar terreno. As fintechs de empréstimos entre particulares, os crowdfunding imobiliário e os sistemas de leasing operacional oferecem soluções complementares. Mas estas alternativas ainda são marginais no panorama financeiro português e nem sempre são adequadas para todas as situações.

O Banco de Portugal tem acompanhado estas evoluções com atenção. As autoridades supervisionais reconhecem a necessidade de equilibrar a estabilidade financeira com o acesso ao crédito. Nos próximos meses, esperam-se orientações mais claras sobre os critérios de concessão de crédito, com o objetivo de garantir que os bancos não sejam excessivamente restritivos.

Enquanto isso, os portugueses terão de se adaptar a esta nova realidade. Isso significa planear com mais antecedência, poupar mais para a entrada e diversificar as fontes de financiamento. Os especialistas recomendam que quem pretende pedir crédito nos próximos meses prepare a sua candidatura com cuidado, reunindo toda a documentação necessária e demonstrando uma situação financeira sólida.

O futuro do crédito em Portugal está em transformação. As regras mudaram, os critérios apertaram e os bancos tornaram-se mais seletivos. Esta nova realidade exige que os portugueses sejam mais informados e mais preparados quando se dirigem ao balcão do banco. A era do crédito fácil acabou - agora começa a era do crédito inteligente.

Tags